quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Campana.

Saí para uma operação noturna em uma cidadezinha. A chuva havia dado trégua, mas o barro, em alguns pontos, era muito semelhante a um mingau. Às vezes pegajoso, grudava na sola do tênis. A campana era próxima a um riacho fedorento, onde o esgoto da cidade deságua. Estava escuro e havia uma umidade incômoda. Éramos quatro agentes, divididos em duplas posicionadas em diferentes pontos. A casa observada mostrava luz interna, visível pelas frestas das precárias janelas. Ninguém à vista, saindo ou entrando. Depois de um período de tempo fui dar uma caminhada, para ver se ouvia vozes na casa. Se fosse vista não haveria problema. Naquela cidade, eu era uma total desconhecida. A rua estava escura, e era difícil saber onde pisava. Das casas vinham vozes de crianças e de adultos e sons dos televisores ligados, que iam ficando para trás, dando lugar aos sons das casas seguintes, à medida em que o trajeto era percorrido. A casa alvo estava no mais absoluto silêncio. Passei lentamente em frente, ouvidos aguçados, olhos querendo ver através das paredes. Depois de um tempo retornei. Pés pesados de barro, pensamentos difusos cortando a escuridão. Lembrei de meu marido e de meus filhos naquele momento. O que sentiriam me imaginando ali. Melhor não saberem. Eu escolhi assim. No dia seguinte estaria novamente em casa, na luz.

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