sábado, 15 de novembro de 2014

Sobre trabalho, educação, respeito e ansiolíticos, necessariamente nessa mesma ordem.

Um grupo de trabalho é um grupo social como tantos outros. Nele convivemos com colegas e suas características. O gestor deve ser membro acessível, convivendo, observando para conhecer o grupo em suas peculiaridades e, assim, melhor aproveitar as potencialidades de cada elemento. A observação criteriosa pode indicar necessárias alterações. A perspicácia, qualidade fundamental ao bom gestor, guia a solução de conflitos, a condução da “tribo” da forma mais proveitosa e harmônica possíveis. Um grupo de trabalho é naturalmente diversificado, em vista das peculiaridades de seus componentes. Gestão é talento. Não se trata de imposição absoluta ou delegação comodista. Dito isso, passamos às possibilidades de convivência no trabalho em equipe. Respeitar os colegas, sabendo o limite da “sinceridade”. Grosseria não é, nunca será, sinônimo de sinceridade, mesmo que o supostamente sincero mantenha a expressão de “mosca morta”, querendo imprimir ao momento um ar de neutralidade. A sinceridade vem através de sucessivas aberturas de espaço para que ela aconteça; é preciso sensibilidade aguçada para chegar a ela; não nasce de hoje para amanhã, E podemos até admitir que nunca nasça. Educação é a chave que abre qualquer porta, principalmente das relações humanas. Algumas vezes a diversidade de características dos elementos é tão aguda, que torna impossível a adaptação saudável de alguns. Doentes? Não, diferentes, com outras histórias de vida, com capacidade de resiliência maior ou menos, aspectos que podem ser lapidados com a devida
autoprogramação. Porém, não raramente, o indivíduo que passa por situação crítica sente uma solidão incrível, que não é fruto do seu imaginário. Ele sente porque realmente é deixado só. Poucos querem aproximação, por medo de serem envolvidos, independente da origem da crise. A famigerada resiliência precisa existir para a superação gradativa. Os elementos do grupo precisam cultivar em si aspectos tais como: flexibilidade, criatividade, objetivos definidos, consciência dos limites físicos, observando reações fisiológicas e emocionais, que, se ignoradas, desencadeiam desconforto, dor e doenças. As relações harmônicas no ambiente de trabalho promovem melhor desempenho. A busca por isso precisa ter inicio no contexto individual. Cada elemento precisa sentir liberdade para cumprir suas tarefas sem constrangimentos. É proposta personalíssima.  Evidente que nem tudo se resolve com resiliência. Ao gestor compete a preocupação pela manutenção de um ambiente harmônico, valorizando os membros da equipe de forma que não sejam alimentadas vaidades, desigualdades e rivalidades. É importante lembrar que há muitos casos de assédio moral no ambiente de trabalho, oriundos de superior hierárquico ou por parte de colegas, que a resiliência não supera. Temos aí um sério problema de gestão, ou melhor, de gestor. O assediado no setor privado conta com alguma proteção da legislação trabalhista. O Estado, por esperteza ou falta de interesse, não recepciona a legislação que poderia dar o devido basta a isso no setor público. Solução ao alcance de todos: procurar recurso médico e sair de lá com a receita de um ansiolítico. Isso fará  o servidor em tratamento dormir artificialmente, criará um condicionamento sem resolver a situação, pois a origem do problema persiste.Não raras vezes, isso imprimirá um rótulo nas costas do assediado, como se desequilibrado fosse. A fragilidade ou reação desmedida de um retira o foco daquele que deu origem ao conflito. Além disso, a solução requerida às esferas hierárquicas superiores esbarra no comodismo, nos interesses particulares e de classe ou em políticas internas,  dificultando que se chegue a termo para a situação. Em alguns casos o “passe” do servidor é liberado. Em outros , uma luta é travada l para mantê-lo, porém, sem atentar ao inferno vivido por ele. É o servidor que precisa de remedinho? Não. É vital para todos um ambiente minimamente estável, harmônico, onde haja a devida valorização com deveres e direitos bem definidos. Gerenciar é obrigação dos designados e remunerados para tal função. Não é título nobiliárquico, requer competência e implica em muito trabalho para que se concretize. É preciso que se dê atenção aos problemas do cotidiano, que são transformados em doenças, paliativamente tratados com remédios, que possuem efeitos colaterais. Remédios não curam a maldade, que sempre faz alguém ser o eleito como bode expiatório. Bom seria se os laboratórios inventassem uma pílula mágica que consertasse o desvio de caráter de alguns, a covardia de outros e, quem sabe a falta de competência de outros tantos. As pessoas estão adoecendo. Licenças de saúde, calmantes e outros medicamentos fazem parte das tentativas para solucionar males oriundos do ambiente de trabalho frustrante, insalubre, desrespeitoso ou segregador. Não é a saída enriquecer os laboratórios farmacêuticos, lotar os consultórios médicos e psicológicos. Precisamos de mudanças na forma de conviver, ser mais seletivos e corajosos ao estabelecer o limite do que realmente é possível suportar. E a educação, mestra do respeito, precisa ser colocada em alta cotação.






domingo, 9 de novembro de 2014

A beleza nossa de cada dia.

Tenho estado tão bonita ultimamente, de uma beleza impar, que não encontra definição em padrões. Cada linha que vinca o meu rosto conta histórias, como num livro. Sabe aquelas medidas de proporção do corpo, angústia de tanta gente? Sei lá! Isso é problema de outros! O meu foco são as articulações, e com elas converso silenciosamente a cada dia buscando um mútuo entendimento. É, preciso delas para prosseguir minha história sem dores, para dar muitos abraços e acolher meus amores. Viram elas até inspiram rima! O corpo é como um carro, que, se não parar, nos leva a qualquer lugar, seja velho ou seja novo, seja maior ou menor. Então a gente deve lavar e perfumar, daí todo mundo vai gostar e querer repetir aquele abraço cheiroso, transbordante de carinho. Tem coisa mais bonita que isso? Dentes... preciso deles, muito, seja lá de que material. Sorrir faz parte da vida, e sorrir muito, e gargalhar até doer a musculatura da barriga. A alegria é inesquecível, o melhor elixir para a vida, um componente da lindeza que eu vejo no espelho. Porém, nem tudo na vida são risos, daí vem a parte séria. Decisões e opiniões, hora de falar, hora de calar. Calar fica mais difícil, conforme o temperamento. Dizem até que é sinônimo de sabedoria, mas prefiro abrir o verbo. Já tive muito tempo para o silêncio e “engoli muito sapo”, e, para mim, atualmente, fico linda ao falar, ao exprimir tantas verdades, principalmente se o tema é honestidade. Tem uma galera que curte, outra que sobe no muro e outros tantos que jogam pedras. Fico triste e até choro, mas, no dia seguinte, lá estou novamente, com a lindeza que mencionei anteriormente. Pois é, falta de caráter faz enfear o vivente, talvez ele nem se dê conta! Só uma coisa afirmo:aturar gente “torta”, só depois de morta, pois, em vida, SEMPRE conflitam comigo! E espero que bem entendam, que não me refiro ao físico, pois o físico não é a essência que tanto valorizo. E os dias vão passando e, com sorte, viverei muitos, correndo atrás da beleza, que não pode ser percebida num simples olhar de esguelha. Sempre há tempo para a bondade, sempre há tempo para a honestidade e autenticidade. Basta  perceber que isso é felicidade, do tipo que aparece no espelho em qualquer idade e, para tanto, é preciso ter muita coragem de olhar a si com sinceridade.

Buenas, para variar eu só quis dizer. Foi meio longo o devaneio, mas de boa intenção. Nós, pessoas com muita história e boa formação de caráter, que já sublimamos padrões estéticos e sociais impostos, muitas vezes sentimos viver num planeta estranho. Princípios frágeis, falta de compromisso com o bem comum, interesses particulares priorizados em total falta de respeito aos semelhantes, vaidades exacerbadas, parecem haver tomado conta do mundo. Não é o tempo de vida que nos difere, mas sim a história individual. Há muitas cabeças com alvos cabelos que envergonham pela conduta desonesta, matreira, interesseira, assim como há também jovens, que poderiam fazer a diferença, perdendo-se nas malhas da desonestidade. Lamentável, mas não dá para desistir de incentivar os fiéis aos bons valores, sejam pessoas novas ou velhas. E que o apagar das luzes externas aconteça, sem escurecer a beleza luminosa que nossos atos conseguiram alcançar.  

domingo, 27 de julho de 2014

Sobre descanso, direito e dever.

Descansar ainda é privilégio de poucos. Num mundo em que ainda existe trabalho escravo e trabalho infantil, até o fisiologicamente necessário vira privilégio, quando permitido. Todos os direitos e deveres deveriam ser exercidos de forma natural, sem polêmicas, sem confrontos. Pagamento JUSTO e trabalho executado com DEDICAÇÀO; BOM SENSO e RESPEITO dos que administram, preocupação com o FIM a que se destina cada serviço, por parte de TODOS. Tudo ensejaria na distribuição equilibrada do esforço, o que infelizmente não ocorre. É preciso a consciência do dever cumprido. Não é o outro fazer o que me caberia, não é a mera permanência no local de trabalho conforme as horas estabelecidas no contrato, muito menos ficar de olhos tapados ao comprar produtos, fruto do trabalho infantil e/ou escravo. Individualmente somos fracos, coletivamente temos força. Descansar conforme temos o direito reconhecido, para recarregar as baterias e remodelar o que estiver ao alcance, por pouco que pareça, será muito, pois o que precisa ser modificado, com prioridade, é a mentalidade no contexto do trabalho. Realizar, aprender a realizar e deixar de ser um obstáculo aos que assim procedem opera milagres. Basta simplesmente ser gente que aplica o potencial positivo que possui. 

sábado, 19 de abril de 2014

Plantar para colher o quê?

Acreditei, ao longo dos meus 60 anos, durante os quais tive a preocupação com a verdade e a honestidade, que certamente colheria os resultados do que sempre defendi. Vou dizer agora, para que os amigos saibam, que não ocorre bem assim. No quesito paz interior, consciência tranquila, certamente isso ocorreu. Porém, esperar receber o tratamento conforme a minha postura frente a vida, tem sido uma frustração. Respeito é algo que só recebemos daqueles que respeitam a vida e os demais seres, seus semelhantes ou não. Podemos, ou viver agindo sem nos resignarmos com o que é injusto, com o que é socialmente prejudicial, ou focados em nós mesmos e na família, numa constante adaptação ao que prejudica, mas que se acredita não ser da nossa competência(ou incompetência) mudar. Adotando a segunda opção passaremos batido em qualquer meio, sem encontrarmos maiores empecilhos. Já a primeira opção, que certamente ferirá os calos de alguém, implicará em obstáculos que muitas vezes desconheceremos a autoria, por também desconhecermos as associações existentes. Ah!,vida complicada, princípios morais impraticáveis, que são calcados nos seres, e postos em ação possuem o sabor da frustração! Os fatos podem ter diversas interpretações, e mesmo tendenciosas, mas existem elementos que não deixam margem à dúvida. Daí a necessidade de termos sempre fotos, gravações, documentos, eticétera, pois uma versão de fatos precisa ser coroada de provas, num mundo que transforma a vítima em vilão, se esta não for pessoa com associações de interesses. Eis a razão de câmeras, máquinas fotográficas, gravadores, tudo condensado numa coisinha só, para compensar a falta de verdade humana. A palavra não tem mais valor, pois a mentira é praticada como um instrumento de defesa de interesses dos mais escusos, mas importantes para a manutenção da vaidade, do poder e da usura. E não podemos esquecer que Jesus Cristo(referência ao pensador), ao pregar a justiça numa terra de injustiça social, morreu crucificado. Depois virou ser supremo, mas primeiro teve que provar o sumo da maldade de quem tinha o poder e dos que adoravam um espetáculo de horror.É, um comportamento que vem de longa data, diria que contemporâneo do primeiro grupo social na face da Terra. Tiradentes, cujo dia é comemorado hoje, também levou sua amostra do resultado das associações de interesses e do prazer sádico. Então é assim? É. Mas por que não fui preparada para isso? Ora, alguém tem que acreditar na possibilidade de justiça entre os homens! Alguém precisa crer e lutar por ela, para dar continuidade ao sacrifício exemplar. Uns assistem como platéia, outros lamentam e outros aplaudem o massacre. Muito lugar comum, muito repetitivo. Quem duvidar leia sobre a história da humanidade. Depois, em alguns casos de maior destaque, o alvo vira santo, data comemorativa, nome de rua ou qualquer coisa que resgate as consciências pesadas pela inércia frente aos acontecimentos. Mas eu só quis dizer.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Algo podre no reino...

Um dia percebemos que determinado segmento da vida não possui mais o sentido inicial. Que o que buscamos esvaziou como um balão, talvez inflado unicamente por nosso entusiasmo. E verificamos que, quanto mais tempo investimos naquilo que um dia nos pareceu importante, mais sentimos a sensação de inutilidade. Constatamos que o que nos incomoda, pouco ou nada importa aos demais, como se vivêssemos em um universo paralelo. E nessa constatação percebemos que a grande maioria vive acomodada, embora seja um estado que perceptivelmente machuca lentamente, desgasta e faz fortalecer aspectos negativos da personalidade. Criam-se defesas que deveriam estar adormecidas, se naquele segmento houvesse a valorização do ser em suas melhores características. Assistimos alguns lançarem mão de artifícios menores em detrimento da competência, uma verdadeira escalada à custa dos ombros alheios. Tudo possível de entender como comportamento histórico, mas questionável quanto aos valores morais necessários e, mais ainda, quanto à validade de fazermos parte de algo que não apreciamos. Quando percebemos que até a felicidade alheia é objeto de incômodo para alguns, e que o segmento se move visando desconstruir o grupo, sentimos vontade de gritar -pára que queremos descer! A vida é muito curta para ser de pouca qualidade. E qualidade é sentirmos harmonia tendo consciência de nossos atos. É sermos úteis e bons, deixando de lado a mesquinhez, sendo educados e nunca desenvolvermos o hábito de boicotar aos demais como se isso fosse uma vitória, ao invés de uma vergonha. Estamos no mundo e, querendo ou não, somos um exemplo aos que nos substituirão e aos que educamos. De exemplos negativos todos os contextos estão entulhados. Os que estão no comando deveriam ser exemplares, para deixar o melhor legado, porém, permitem que os vícios de conduta se perpetuem. Ao observarmos com cuidado é possível constatar que as mudanças e a valorização do que é positivo, não ocorrem por decorrência de medo. Nos contextos em que as alianças são estabelecidas priorizando as vantagens pessoais, a última das prioridades é a competência, tornando, assim, muito fácil a derrocada de qualquer dos membros. A dança das cadeiras é rotina e a insegurança reina solta e soberana. Todos sofrem os reflexos do que podemos nomear como desordem interesseira, e até as baratas e os ratos conseguem facilmente juntar cartas nas mangas para usar contra alguém e em benefício próprio. A saída mais usualmente adotada pela maioria é a shakespiriana, em Hamlet: fazer-se de louco para não ver que “há algo de podre no reino da Dinamarca”, que, mesmo aparentemente cômoda, violenta a inteligência e o senso moral de quem os tem. Complicado, real e aviltante, mas eu só quis dizer...

sábado, 6 de abril de 2013

Palco...para quê?


Um dia eu pensei que não queria mais voltar. Pensei que todo o meu esforço havia sido em vão. Sentia-me convencida de que era hora de mudar de caminho, procurar outra estrada. Entrei em casa chorando e fui cercada pela energia mais fortalecedora que existe no mundo: o amor do meu marido e dos meus três filhos. Disseram:-Volta, pois quem te subestima é porque não te conhece!
Voltei. E aprendi que o medo alheio é uma resposta desejada por muitos,e um prazer que não gosto de proporcionar. Desde então, sinto-me permanentemente agasalhada pelas asas de um anjo. É um conforto indescritível, divino, que só me traz fortalecimento para buscar a justiça e oferecer apoio aos que precisam. Percebi que aqueles que oprimem ou maldosamente prejudicam, cedo ou tarde caem ao solo, vítimas de seus próprios sentimentos. Não travo lutas individuais buscando o   autobenefício. Luto pelo que acredito ser justo ao grupo. O que é meu está reservado e será sempre conquistado através do esforço, da competência. Não almejo louros, purpurinas ou outras coisas efêmeras. Desejo é ter gente feliz a minha volta, convivendo em clima de harmonia, livre do peso da opressão e da disputa, que, por vezes, são tão mesquinhas que tornam-se risíveis. Algumas pessoas lutam tanto entre si pelo destaque, que sequer percebem que o  palco no qual ambicionam subir não passa de uma caixa de fósforos, tão minúsculo o tamanho. Para as formigas, uma caixinha parece um grande espaço. O que dá acesso e, especialmente, a permanência nos grandes palcos da vida é a luz individual, o talento natural para transformar o mundo que nos cerca em um lugar melhor para viver e conviver.E o que mais podemos ambicionar? Porém, a maldita vaidade humana sem os freios do bom senso e, fortalecida pela mesquinhez, arrasa qualquer ambiente.Mas é preciso perseverar, dia após dia, sem deixar-se abater. Não é preciso dizer, basta fazer. E lembro da frase -volta, pois quem te subestima é porque não te conhece!- e volto disposta a tentar. Quem é capaz lê nos meus atos uma clara mensagem de desejo por transformações. Quem não faz a leitura, bem...deixa estar, milagre não é a minha especialidade. Ambiciosa? Sim, talvez mais do que qualquer um. Quero um imenso palco sobre o qual todos possam estar num feliz estado de harmonia e demonstração de seus talentos. Parece demais? Não, é só o caminho da boa e produtiva convivência.Vale para qualquer local. Basta que cada um ligue o seu próprio desconfiômetro e perceba seus excessos. Tenho os pés firmes no solo e percebo que a única forma de encontrarmos qualidade na necessária convivência é investindo na valorização mútua.Não podemos continuar na desenfreada competição e no constante hábito de sabotar uns aos outros, em nome da ambição e do prazer de afligir aos mais frágeis.A vida é muito curta para ser gasta em uma vivência medíocre.   E, explorando um pouco mais a linguagem figurada,digo que estou aprendendo a navegar, mas o mar e os peixes são meus velhos conhecidos.Ensina-me a navegar que te contarei sobre os mistérios do mar, e, juntos, faremos uma grande pescaria. Mas eu só quis dizer.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Voar é para os pássaros, mas eu também quero.


Voar é para os pássaros, mas o homem, louco de inveja e sedento de adrenalina resolveu arranjar um meio de realizar a proeza. Eu, como gosto de deslocamentos rápidos, nada posso fazer senão aderir. Mas, cá entre nós, não espalhem, não consigo ficar confortável dentro daquele trambolho com asas. Confesso que, se adiantasse, embarcaria vestida com roupa de mergulho completa, (incluindo cilindro de oxigênio e pés de pato) e paraquedas, pronta para qualquer eventualidade. Mas, segundo um amigo piloto, não é solução. Resta desistir da ideia, relutante, muxoxeando como criança e, enfrentar. É que sinto uma certa insegurança, em vista da distância do solo. Nas alturas as nuvens são lindas, o relevo distante, tão cheio de altos e baixos, torna-se minúsculo e o oceano parece uma película brilhante. Tudo parece composto de serenidade, menos os meus pensamentos, que insistem em questionar o que a falta de opção deveria vetar por ser inquestionável. Será que o piloto dormiu bem antes do voo? Será que pilota tão bem quanto eu dirijo? Bah, daí a coisa fica complicada e resolvo ler, sem sair da mesma linha por dez minutos. Foi mais ou menos assim o meu retorno do Rio. Voo atrasado sem explicações seguido de um ritual moroso entre acomodação de sacolinhas, bolsas e distribuição de balinhas. O piloto com voz sensual comunicou um defeito na ventilação, já sanado, o que foi confirmado pelo cheiro de óleo ou plástico que começou a exalar junto com o vapor que saia pelo duto. É incrível como as pessoas fazem cara de paisagem diante de situações duvidosas! Entendi a razão de não deixarem embarcar com artefatos do tipo machados, martelos e outros, pois pensei que seria bom ter um deles para quebrar o vidro e deixar entrar ar de verdade por aquele buraco, que imagina-se ser uma janela. Depois de muito anda e para na pista, o urubu subiu! Cruzes! Mais ou menos na metade do percurso, cansada de tanta reza forte, novamente ouvi o piloto, ou o comissário, dizer para ficarmos sentados com os cintos, pois estávamos atravessando uma área de turbulência. Eu senti um forte ímpeto de levantar e gritar-vai à merda e dirige esta porcaria direito, motorista!-mas evidentemente mantive a cara de paisagem padrão, comum no avião.
No final das contas, nem sacudiu muito. Foi só um 1º de Abril aplicado pelo piloto em pleno mês de fevereiro. Pousamos em Porto Alegre, para minha alegria, com a destreza de um pelicano, e todos os passageiros com cara de paisagem. Foi mais ou menos assim, sem contar o duelo entre o comissário e uma velhinha. Bem, não sou um pássaro, e sofro da inveja original dos humanos querendo voar também. Deve ser também uma ponta de masoquismo da minha parte, disfarçada de senso prático, mas que deixo para analisar em outra vida, pois nesta estou ocupada planejando o próximo voo. Mas eu só quis dizer.