quinta-feira, 21 de abril de 2011

Violação e culpa.

O olhar, entre a culpa e a apatia. Ao lado, a mãe, séria, fisionomia endurecida, um toque de irritação denunciado pelos olhos. Em algum lugar, o padrasto, pivô ausente do desconforto.
A cena silenciosa evidencia a inexistência de comunicação, a distância imensurável entre mãe e filha. Naquele momento, um desejo de aconchego materno parece ser o remédio para a dor juvenil, com o poder de unir e mandar para longe a angústia torturante. Traria o conforto e limparia a alma daquela menina de 13 anos, vítima da crua vida. O olhar espelha o desalento diante das privações já vividas, interpostas de forma soberana, e o prenúncio das que fatalmente virão. Seu mundo quase infantil foi violado; a inocência, arrebatada de forma perversa, sem a possibilidade de recusa. Aquele que pôs comida na mesa arrogou a si o direito de posse dela. Aquela que sofreu abuso carrega o peso da culpa pelo banimento do provedor da família. A censura materna é o complemento para a agonia e solidão. Pela fala da mãe, transparece a vaidade ferida e a inconformidade com a perda do pouco existente em sua vida. Para a menina, o pouco veio seguido de um alto preço, cobrado sem perguntas. Ela chegou ao mundo como mera conseqüência e nele seguirá ao acaso, no desconhecimento de como será o dia seguinte.

Um comentário:

  1. Em poucas palavras consegues transmitir exatamente o sofrimento, a dor, a raiva, o inaceitável.
    A vida é isso. Inúmeras razões para odiá-la e amá-la na mesma intensidade...

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