sexta-feira, 25 de maio de 2012

Lampejo.

Ela estava sentada em sua cadeira preferida, que a fazia balançar suavemente no compasso do tique-taque do relógio. Os cabelos lisos e prateados, presos por um delicado passador. A sua frente a madeira queimava na lareira, trazendo o calor aconchegante ao seu frágil corpo. As rugas, que lhe marcavam toda a face, não escondiam um certo ar maroto e feliz. Entregue às lembranças e à imaginação, percorria caminhos, tal como fizera outrora e imaginava-se em outros ainda por conhecer. O corpo não a levava mais aonde queria ir, mas a imaginação e as lembranças sim. Era ela, a imaginação, seu último contato com o muito ainda por conhecer e fazer. A incoerência biológica, imposta ao seu corpo, a envelhecera; porém esquecera de avisar ao espírito que envelhecesse também. Há muito tempo um amigo, ao ouvir suas narrativas, a havia chamado de espírito jovem. Ela ainda possuía essa característica, fruto de um insaciável amor pela vida. Queria experimentar, conhecer, sem admitir as imposições do tempo; mas este vencera seu corpo e poupara seu espírito, o qual a impulsionava a ter toda a emoção que desejava, sem sair de sua cadeira. Suavemente adormeceu, num cenário muito azul e brilhante...Mas eu só quis dizer.

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