segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Entre a vocação e a desmotivação.

Fiquei triste ao saber da morte, em serviço, de um agente, colega da Civil de Caxias do Sul. Não o conheci, mas isso não impediu meu abatimento pela notícia. Ocorre que, na nossa profissão, somos todos ligados uns aos outros de uma forma bastante peculiar. Quando ocorre no exercício funcional, a fatalidade de um tem o peso de alerta para todos. Com a morte de um de nós em serviço, somos lembrados da nossa vulnerabilidade. Todos os seres vivos, ao pressentirem o perigo, tentam sair da situação de risco; o policial, contrariando o instinto natural, deve se deslocar para ela, o que é inerente ao exercício de suas atribuições. Somos poucos, muito poucos, e muito mal pagos para fazer nosso trabalho. Não sou credenciada a falar pelo grupo, no entanto posso falar dos meus sentimentos e daquilo que observo. A sociedade cobra segurança, desvendamento da autoria de crimes, prisão de traficantes e outros criminosos, mas parece ser completamente impermeável às constantes denúncias efetuadas pelos meios de comunicação sobre a falta de efetivo e os baixos rendimentos dos agentes. Parece pouco importar o que há por trás do contexto da segurança pública. E até dou razão a quem reclama segurança, pois os impostos são pagos para tê-la. Como cidadã, também clamo por ela, a fim de que meus familiares circulem em paz, e para, de uma maneira geral, haver qualidade de vida. Entretanto percebo a distância que nos separa desse tão reivindicado direito fundamental, na sua plenitude. Sei também o quanto é árduo o trabalho policial, que busca impedir a proliferação do crime que desassossega a vida em todas as comunidades, independentemente de suas dimensões. Nunca é demais ressaltar a existência de uma administração governamental historicamente falha, relegadora dos serviços de segurança pública. Tanto é verdade, que educação e segurança são os carros-chefes dos discursos de quem pretende se eleger. Depois, conquistada a vitória, inicia-se a tentativa de administrar a insatisfação do povo e dos servidores com verdadeiras esmolas. Somos poucos e fazemos muito com o pouco que nos disponibilizam. Gostaria de ter o dom de transmitir a garra caracterizadora  da ação dos policiais em operações. Muitos são jovens, com muito para viver. Todos deixam, em casa, suas famílias, seus amores, e vão cumprir sua obrigação funcional. Cada operação bem sucedida ilumina os rostos de todos, e o sorriso se transforma em regra geral. O ganho mensal, esgotado antes de cobrir as despesas básicas, é esquecido ao realizar a missão. Percebo pessoas vocacionadas ameaçadas pela desmotivação oriunda da falta de reconhecimento, inclusive financeiro. O trabalho realizado nunca é suficiente, pois a criminalidade aumenta exacerbadamente. Entre uma missão e outra, há o tempo para pensar no sentido da permanência na vida policial e nas perspectivas resultantes dela. De volta ao lar, se deparam com os problemas que resultam do dinheiro muito escasso para manter a família. Originam-se, assim, em consequência de uma administração deficiente, agentes desgostosos, para os quais a valorização é uma conquista remota que os assombra até a morte em ação, ou, com sorte, até a morte natural. A despeito disso tudo, uma coisa é certa: fazer parte da Instituição Polícia Civil orgulha e impulsiona ao cumprimento do dever, independente do esforço necessário para empreendê-lo. É o que sinto e o que observo. Mas eu só quis dizer.

2 comentários:

  1. Concordo contigo, em número e gênero, e penso que num país onde a Segurança, a Educação e a Saúde, não forem valorizadas e bem pagas, nada mudará para melhor. Agradeço por termos, ainda, pessoas integras que fazem o seu trabalho decentemente, por amarem o que fazem e por serem corretas.Parabéns !!!

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  2. Obrigada, O MARAVILHOSO MUNDO DA FRU, por ler e comentar o post.É muito gratificante fazer contato com pessoas sensíveis e esclarecidas.Um grande abraço.

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